domingo, 6 de dezembro de 2009

Perder o Norte...



Encontrar ou manter o Norte nos dias de hoje é obra difícil, para não dizer impossível.

Bem sei do que falo, pois já pensei ter encontrado o Norte, perdi-o, e hoje procuro saber, com muito cuidado, se de facto o reencontrei.
Viver numa cidade grande tem-me mostrado muita coisa. Uma delas é que nem sempre o dinheiro traz felicidade, daquela que nos faz sentir "inteiros" por dentro, no matter what. Sei que isto parece um cliché, mas ouçam, pois eu nem sou daquelas pessoas que acredita no amor e numa cabana. De todo. Sou muito realista com todos os inconvenientes que isso possa comportar.

Aqui conheço muita gente, algumas de muito perto, outras nem tanto, mas vou dialogando e por vezes bastam-me algumas palavras aparentemente soltas, para eu ler sentimentos bem mais profundos e (des)estruturantes.

Nesta cidade grande e cosmopolita, deparo-me muito com muita gente que está muito bem na vida, economicamente falando.
A maior parte destas pessoas encontraram de facto aqui o seu el dorado, outras buscam-no insaciavelmente, usando nomeadamente alguns meios menos lícitos para chegar lá....e muitos/as conseguem...outros/outras nem tanto, mas não perdem a esperança ou a ilusão direi eu. A ilusão de uma vida melhor, mas nem sempre mais rica. Muitos, muitos mesmo, deixam transparecer, entre dois sorrisos, uma mal estar que vem de dentro. Basta-me um pequeno olhar perdido no vazio para eu perceber que existe ali uma tristeza profunda.

Muitas vezes chego a não conhecer as causas dessa tristeza, outras vezes sim, sei, vejo mas não falo. Deixo que a pessoa fale ou simplesmente, ficamos em silêncio e desviamos a conversa para outras coisas.
Aqui vive-se em grandes festas, conhece-se gente "culta", casas sumptuosas, restaurantes requintados, viaja-se quando bem se quer, mas não se tem o que mais se deseja: um amor verdadeiro, uma intimidade sentida, aquela que não precisa de palavras.
Nunca me esquecerei de um desabafo de um colega português, funcionário vitalício numa instituição de renome que me confessava, entre dois copos (pois tá claro), que cá "as pessoas são íntimas sem nunca terem partilhado a intimidade".

Mais do que aquelas palavras, para mim, confusas e incoerentes, o que mais me tocou foi a profundidade daquele olhar ao pronunciar aquelas palavras.

Vim para casa a pensar naquele absurdo e confesso que não entendi.
Mais tarde, depois de ter conhecido mais gente, em situações muito idênticas, entendi tudo finalmente. Hoje em dia, ou pelo menos, aqui, as pessoas não se amam verdadeiramente, não se dão verdadeiramente, sem que o interesse esteja (omni)presente.

Cada vez mais, apercebo-me que as relações nascem da conveniência, seja pelo dinheiro, seja pela solidão, seja porque querem ter filhos, ou porque a tradição diz que assim é que tem de ser.

As pessoas vivem no meio do conforto, mas revoltas num sentimento de perda, de derrota, de tristeza que nem elas sabem explicar. Têm tudo mas falta algo.

É uma contradição que não sei explicar. Mas nesses momentos, sinto saudade dos tempos em que era criança e em que toda esta realidade me era estranha. Preferia não ler, não ver, não sentir este vazio, a aflição no olhar do outro. Esta experiência chega a ser tão intensa que fico angustiada, desamparada, e com medo que isso me venha a acontecer.

Nunca pensei sentir, aqui, nesta grande cidade, o que é perder o Norte. Nunca. Mas a cada dia que passa, sinto que Deus ou a crença em algo de bom e melhor poderá ser a solução.
Acredito que Ele seja reconforto na adversidade, na solidão, no desamparo, pois só Ele nos ouve quando mais ninguém nos ouve. Ele é o nosso ouvinte privilegiado.
Ele não responde, ali, naquele momento, mas devolve-nos a esperança, aquela esperança de um novo dia. Não será assim?

Sem comentários:

Enviar um comentário