
Quando me casei, assim, há um século atrás, nunca tinha prestado atenção ao "acto de dormir junto", mas hoje sei, por experiência própria, que ele diz muito sobre a relação.
Há uns dias atrás, comentava uma pessoa conhecida, e isto de uma forma totalmente espontânea e intuitiva, que não conseguia dormir a noite toda com o marido ao lado e que, a meio da noite, sentia a necessidade de se levantar e de vir dormir para o sofã.
Eu não disse nada, mas não achei muito bom presságio para aquele casamento que conta apenas com dois anos.
Acho que o acto de dormir é o momento único do dia em que o casal tem a real oportunidade se (re)encontrar a sós. É "o" momento da partilha, do toque, com ou sem intimidade sexual.
É nesse preciso momento em que as maiores confissões de amor são feitas, onde se manifesta aquele gesto de carinho que é tão essencial à preservação da relação.
Pois bem, eu acho que dormir junto significa dormir agarradinho, em concha de preferência, entrelaçando pernas e braços, para se fundir num só.
É completamente indiferente e natural que no decorrer da noite, esse abraço mais profuso se desfaça, mas o aconchego fica. A proximidade física feita intimidade está presente. E isso é bom, muito bom e desejável que assim seja.
Agora, quando observo situações como a que eu passei em que se traça uma linha imaginária que nem o equador para "delimitar" milimetricamente os espaços físicos ocupados por cada um numa mesma cama ou situações em que um dos cônjuges sente a necessidade absoluta e recorrente de partir para o sofã, não posso achar isto próprio de uma relação plena.
Pode ser mania minha, recalcamento de um trauma passado...não sei, mas continuo na minha.
A proximidade física diz muito de nós e da relação que vivenciamos naquele momento. Diz muito da nossa cumplicidade sem ter de o provar com palavras.
Já dizia Pierre Bourdieu que o "Habitus", ou seja, a forma como o corpo se faz coisa, ao expressar-se sem falar, diz tudo de si sem que a palavra tenha sido convocada.
A intimidade ou cumplicidade existe ou não existe, ela fala por si. Não precisa de provas ou de explicações verbais.
Concordo plenamente, BXL. Existem actos que falam por si.
ResponderEliminar