quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

A minha alma num beijo...



Por estas bandas, conhece-se imensa gente proveniente de outras culturas e professando outras religiões para além da católica.
Tenho uma amiga, em particular, que me tem ensinado muito, mesmo que ela tenha noção disso.lol.
Ela é marroquina, cabelo escuro, e é muçulmana. Ela tem alguma, direi mesmo muita confiança em mim e confessa-me coisas que não lembra o diabo. Faz-me perguntas sobre sexo, que nunca me passariam pela cabeça. Pode ser que um dia eu conte aqui, mas hoje quero contar outro episódio que me marcou sobremaneira.
Isto passou-se há uns dois meses e foi absolutamente delicioso de tão bonito e genuíno que foi.
Esta minha amiga não tem namorado, mas sonha com o príncipe encantado de olhos abertos, 365 dias por ano, e a cada segundo do dia.
Tem 31 anos, e portanto já se acha velha, e anda consequentemente desesperada por um homem que lhe dê filhos e que lhe traga a famosa felicidade cor de rosa, com anjinhos de asinhas e tal e coisa. Já sabem como é, né?
Um belo dia, chega-me aflita, completamente perturbada, de olhos encharcados e diz-me que tem uma coisa para me contar. Uma coisa grave.
Eu pensei logo no pior: tem uma doença incurável (eu tenho jeito para pensar em coisas graves). Mas não. Nada disso: tinha arranjado um namorado há duas semanas, também ele muçulmano, e ele tinha acabado de lhe comunicar que decidira terminar a relação por SMS. Digno de um gentleman..
Eu, claro, iniciei logo aquele discurso de que "homens há muitos e que ele não a merecia", quando subitamente ela me interrompe e me diz: "Eu dei-me a ele e tudo. Estou tão arrependida...Nem acredito que fui tão ingénua".
Aí, parou tudo à minha volta. Fiz alto e para o baile! Como miúda?? tu quê??? Tu deste-te a ele???? Eu ia tendo uma síncope naquele momento porque sei o quanto ela venera essa coisa chamada virgindade.
Em câmara lenta, os meus neurónios puseram-se em conversação e pensamos: "porra, foi desta que a gaija vai ser trucidada. Perdeu a virgindade. O caldo está entornado!". Imaginei logo o pior cenário (isto indo ao encontro da minha versão sempre fiel do pior cenário possível): ela iria ser expulsa pela família, linchada pela mãe mal pusesse os pés em Casablanca. O vericto final estava bem ali na minha frente: pronto, fez merda e estamos *odidos.
Depois desta pequena divagação interior, regresso ao meu diálogo com essa minha amiga quando ela me diz em remate final: "Dei-me a ele pois dei o meu primeiro beijo a um homem! Nem acredito que fui capaz".
Aí respirei fundo, e o meu coração voltou a bombear dentro da normalidade. Estamos safos, afinal foi apenas um beijo.
Eu estava aliviada, mas ela não. Chorava copiosamente, ali, na minha frente e eu sem poder fazer nada. Partia-me o coração.
No final do dia, eu pensava cá para os meus botões que ela tinha toda a razão. Dar um beijo é dar um pouco da nossa alma a outra pessoa. É partilhar aquilo que temos de mais íntimo e único. É o nosso paladar, o nosso sabor que damos a conhecer. Mais do que o sexo, que nos proporciona prazer, mas muitas vezes deprovido de alma.
O beijo é na verdade um pedaço da nossa alma que oferendamos a outrém na expectativa de ser apreciada e retribuída.
Como eu a entendia....Acabara de me fazer reflectir sobre algo que nunca tinha pensado e que fazia todo o sentido.

1 comentário:

  1. Se calhar este meu comentaio é um pouco anormal... mas tenho muitas vezes comentar que as prostitutas não beijam na boca...talvez por isso?

    Bem, pelo menos algumas... (A da pretty woman era assim!)

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