sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Familiaridade versus amor

O amor é um caso raro. Porque obriga a tocar a essência duma pessoa. Obriga também a deixar que a outra pessoa toque a nossa essência.
Mostrar a nossa essência, deixar alguém tocar a nossa essência é um risco brutal. Porque se fica vulnerável. Aberto. Exposto. E depois de nos abrirmos, de nos expormos, não temos como saber o que essa pessoa vai fazer connosco. E o medo aparece. Então, não nos abrimos. E assim, é fácil confundir familiaridade com amor. As periferias encontram-se, gera-se familiaridade e acreditamos que foi um encontro de essências e que o amor aconteceu.
Podemos viver juntos anos a fio e não nos conhecermos de verdade. E quanto mais se vive com uma pessoa mais se esquece que a essência continua lá, intocável. E até se pode fazer amor, relacionar sexualmente. Mas o sexo assim é periférico, não é toque de essências. É apenas um encontro entre dois corpos. Uma familiaridade sexual de corpos. Porque o medo está lá, ergue uma barreira que não permite o encontro de essências. Deixamos o outro entrar em nós, mas só até um certo ponto, até à barreira do medo.
A familiaridade é periférica e pode durar uma vida. O amor é essência e pode durar um segundo.

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