segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Diálogos Parentais (2010-09-26)

No carro, à vinda da praia, a ouvir " Forever young" (como é hábito e por exigências dos minis, vou traduzindo algumas letras das músicas que vamos ouvindo):

minime:
Tu queres ser para sempre jovem, mamy?
eu:
era fixe, era, mas não pode ser...
minime:
Isto é engraçado mamy, porque é que quando se é criança quer-se ser adulto e quando já se é adulto quer-se ser criança? Eu gostava de ser adulta, mas acho que se pudesse escolher, era sempre criança.
eu:
e porquê?
minime:
porque, eu crescendo, tu ficas velha. Assim, se eu não crescer tu ficas forever young...

Senta

“Senta-te direita que não consigo pentear-te assim!” “Ai vó! Mas está a magoar!” “Como te pode estar a magoar se ainda mal te toquei?”

Lá fechei os olhos e engoli em seco, todos os dias passava por aquilo, não havia como evitar aquele ritual, avó de escova enorme em punho, não era uma reguada que levava, é certo, mas quando se tem riças teimosas no cabelo até os dedos fazem ferida se se lembram de por lá passar. E ainda dizem que o cabelo não dói. “Direita!” “sim, vó, direita, estou direita.” Eu ali muito pequenina, sumida quase, a achar que se me encolhesse a dor era mais fácil de suportar. Não era. “Pronto, custou assim tanto? Todos os dias a mesma coisa!”. Levantei a cabeça para receber o consolo final, um sorriso e promessa de torradinhas quentes com manteiga a derreter para o pequeno-almoço. “Com leite morninho, vó?” “Sim, leite morninho”. Bebi-o de um trago “Vó, quero furar as orelhas.” “Furar as orelhas pra quê? A tua mãe não deixa.” “Ó vó...não lhe dizemos nada”, “limpa-me esses bigodes de gato”, “ouviste, vó?” “sim, ouvi. Como queres não lhe dizer nada? Andas de brincos e achas que ela não vê?” “Vó, não é isso. Não lhe dizemos nada antes. Dizemos depois”, “estás tolinha” “não estou!”

Vó.

A minha avó. “tens a pele macia, vó”. Eu fechava aos olhos enquanto lhe passava a mão pela cara, parecia mel, um sulco, mel, um sulco, mel... “Vó, és velha?”

Um sorriso a escapar-se. “Sim, meu amor, sou velhota sou.”

“Quando eu crescer não quero ser velha, vó.” “Vais ser velha só depois de seres nova durante muito muito tempo.”


Porque hoje me lembrei de ti, avó.

domingo, 26 de setembro de 2010

Diálogos Parentais (2010-09-26)

(hoje ao jantar)
minime: Eu vou ter 3 filhas: Lia, Lua e Luz. E se o meu marido não concordar, "divoricio-me".

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Diálogos Parentais (2010-09-23)

Hoje ao jantar, minigajo:
Quando eras pequenina, o que querias ser quando fosses grande?
eu: jornalista
minigajo: e foste?
eu: não
minime: porquê?
eu: Porque quando entrei para a faculdade, esse curso era em Lisboa e eu tinha começado a namorar com o papi e não queria ficar longe dele. Então, mudei de curso só para poder estudar cá no Porto.
minime: porque é que as pessoas fazem tudo por amor?

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Querer, queria os dois ao mesmo tempo

Por mais civilizado que tenha sido o divórcio, por mais amigos que ambos sejam, compinchas, companheiros e afins; tenha sido muita ou pouca a convivência de pai, mãe e filhos num mesmo espaço e tempo, há sempre um momento, uma situação, um acaso em que ouvimos da boca dos filhos algo assim do género:
querer, queria o pai e a mãe ao mesmo tempo.
Porque parece que, para terem um, precisam de abdicar do outro. Quase como se lhes fosse pedido para responder àquela questão antiga como os dinossauros: gostas mais da mamã ou do papá?
Não se pergunta. Ponto. Não há resposta para este absurdo. Ponto.
Abala-me pensar que os meus minis têm pensamentos destes? Que, querer, queriam os dois ao mesmo tempo? Abala-me pois. Mas não me derruba. Não me derruba da firme convicção que, apesar de tudo, de tudo mesmo, eles não seriam mais felizes se todos estivessemos juntos, se isso implicasse que um de nós - os pais - não estivesse feliz.
Pais juntos não é garantia de mais felicidade para filhos.
Posso não estar (ser) feliz. Mas não estaria mais feliz se ainda estivesse no meu casamento. E, assim sendo, também estou certa que os minis não estariam mais felizes do que agora estão.