terça-feira, 24 de novembro de 2009

Porque é difícil recomeçar...

Regresso de X com a dolorosa consciência de que a minha vida é apenas talhada por mim e para mim.

Sou simultaneamente “a” peça e “o” puzzle da minha vida. Dito por outras palavras, tenho uma vida solitária onde ninguém habita verdadeiramente …a não ser eu.

É estranho e angustiante aceitar que eu existo, bem ou mal, completamente desligada das pessoas que eu amo ou aprecio, e nelas incluo pessoas íntimas, familiares ou amigos/as. A minha vivência não tem ligação com a vivência de ninguém, além da minha própria vivência. Isto parece meio redundante, mas permite-me ter a real dimensão do meu “drama” humano.

Eu sou só, vivo só e é isto mesmo. É frustrante sentir essa realidade na pele. Senti-la em Y era quase que natural, pois fisicamente falando, não havia como contornar o óbvio da distância, mas essa realidade não é a minha realidade em Y apenas: é a minha realidade, tout court.

A minha existência, actualmente, e, de há uns cinco anos para cá, resume-se a mim, aos meus pensamentos, às minhas rotinas e porventura aos meus sonhos pueris onde és a personagem principal.

Viver em Y não me afastou mais da vida das pessoas que eu amo, incluindo de ti. Vives e sempre viveste distante da minha vida, com ritmos diferentes, preocupações diferentes: vivemos em mundos que não se tocam. Vivemos isolados e longe um do outro, não pela distância que nos separa, mas pelas vidas respectivas que não se reconhecem.

Regressei, chorei, sofro. Sinto-me desalentada, amorfa, inerte no meu canto. Já não choro por ti porque sei que não vens, não porque não queiras mas porque não podes. Sinto-me largada no espaço, sem rede, sem ninguém do meu lado. Amo-te mas nada me vale, de nada adianta. Permaneces longe, mesmo contra a tua vontade.

És a pessoa certa com a vida errada e vice-versa. Temos tudo para sermos felizes e a vida tem tudo para nos separar. Permanece apenas o sentimento, alimentado pelo sonho, pela força da convicção, pela teimosia, pelo orgulho de não se dar por vencido nesta luta desigual chamada “vida”. Existe apenas o sentimento, solto, esfrangalhado, mas sem chão onde repousar, sem terra fértil onde crescer.

Andamos soltos no tempo, soltos no espaço, soltos nos sonhos quase irreais. Como astronautas na lua, somos incapazes de controlar os nossos movimentos, incapazes de assentar os pés no chão, incapazes de seguir o mesmo caminho, juntos, lado a lado, de mãos dadas.

Vivemos a vida como se bebe um licor, aos bocadinhos e saboreando cada travo como se fosse o primeiro e o último. Apenas sei que dói, muito, e não quero sonhar mais, quero ficar imóvel. Sinto-me vazia, sem vontade, sem desejos. Sinto-me apenas derrubada, vencida, esmagada. Sinto o “nada” em mim, imensamente ridícula e só. Jazo no chão, mas não ofereço resistência nem luta. Sinto-me sem forças. Quero apenas ficar, inerte, algures por aí. Hoje não estou para ninguém, nem para mim.

Porque há dias assim em que é tão difícil recomeçar...

Nov 2008

Post by BXL

1 comentário:

  1. Como me conseguiste ler o pensamento... revejo-me de uma forma tão cruel, que chega a ser duro ler...
    KT

    ResponderEliminar