quarta-feira, 9 de junho de 2010

A parte solitária do caminho

Passada a quase euforia do imediato do pós-divórcio que nos confere a sensação de que o caminho é prá frente e que tudo vai ser sempre assim ... aliviados pela purga da dor passada e alimentados pela esperança ... vivemos uns meses de olhos postos no futuro.
Num futuro desejado mas ... ainda não conquistado.
 
E este estar de bem connosco atrai. Atrai para nós gente com carências, tal como nós, maiores ou menores que as nossas. E a empatia gerada aliada à cumplicidade criada pela convivência transporta-nos de asas nos calcanhares, para um carrocel de emoções geradas pelos nossos afectos  ...  e como se num mar revolto andássemos.
 
E nada como um mar com vida, com sal e de azul profundo para quem acaba de chegar do lago estagnado de um casamento falhado.
 
Nem todos os dias somos capazes de navegar neste mar e ... procuramos a bóia num ombro ou ouvido amigo. O mesmo nos acontece ... somos efectivamente a bóia de alguém e é bom. É bom saber que para alguém fazemos diferença. Porque isso quer dizer que temos valor.
 
Até ao momento em que algo sucede ou uma sequência de acontecimentos nos esmaga de dor, uma dor que nada nem ninguém aplaca porque a única pessoa que a pode aplacar está efectivamente perdida no turbilhão das suas emoções.
E essa pessoa somos nós.
E só nós.
 
Os amigos percebem. Conhecem-nos. Os verdadeiros conhecem-nos. A família também.
O caminho não é por aqui.
Estamos num cruzamento e há que escolher a direcção.
Somos forçados a escolhê-la.
E surge a necessidade de cortar com tudo o que abale as nossas emoções e nos deixe no peito aquela dor insuportável e agonizante.
Para que possamos voltar a caminhar.
 
Emoções à trela e açaimadas a clareza de raciocínio volta ... aos poucos.
Retomamos as funções normais do dia-a-dia e sentimo-nos bem connosco. Adormecemos cedo e voltamos a gostar de acordar. O trabalho volta a correr bem apesar de eterno stress e os dias de trabalho afinal começam a passar mais depressa. O relógio pelo menos corre mais.
A auto-confiança está de novo a voltar.
Estamos a viver no presente. A viver a vida real.
 
A dor amaina e cede à indignação e porque não dizê-lo ... à raiva. Connosco. Raiva de nós. "Isto não me podia ter acontecido. E logo a mim que supostamente penso muito depressa e vejo muito ao longe, segundo alguém que já não importa."
Mas na verdade nada sei e a minha sabedoria a existir só pode nascer das constantes dúvidas que me assolam.
As minhas razões, o meu pensamento racional funciona para os outros ... para mim apenas funciona se me isolar das minhas emoções ... e para quem me conhece bem, se me isolar das emoções dos outros. Alturas tenho em que tem de ser assim. Mas sou só humana e de perfil competitivo e teimoso/marreta e nem sempre quero abdicar das minhas emoções ... afinal vivi adormecida muito tempo, sem sentir. E custa abdicar de algo que há tanto tempo não se tinha.
 
Sei ainda que daqui a um ou dois meses, se tudo se mantiver igual, olharei para os 3 primeiros meses  do meu divórcio como uma lição, uma das muitas que aprenderei, de como interpretar sinais ... os sinais da vida que nos dizem que há que virar costas e mudar de caminho ... e que isso não tem de ser mau.
 
Porque afinal eu sei que não estou sozinha no caminho: tenho amigos e familia de quem a mitigação das minhas dores não pode depender, tenho filhos cujo sorriso me inunda alma e me fazem querer ser mais e melhor.
 
E sei que no fim do caminho afinal alguém me espera.
E que por esse alguém tudo vale a pena.
E esse alguém sou ... eu.

1 comentário:

  1. Comento com um provérbio japonês:

    Ainda que o ouro esteja envolto em pó, não deixa de brilhar.

    Estou a dar-te espaço, irmã, aninha-te na concha o tempo que precisares. Quando quiseres, eu estou aqui

    LB

    ResponderEliminar