sexta-feira, 30 de abril de 2010

Abdicar de um afecto ...

Deixá-lo morrer em nós. Sem transpôr, ainda que inconscientemente, para uma terceira pessoa a falta que aquele ser que somos forçados a deixar nos faz.
 
É difícil. É duro.
 
Há dias de raiva. Há dias de tristeza. Há dias de apatia. Há dias de revolta.
 
Já não pela partida do outro - quem não nos quer não os merece e nós não merecemos quem não nos quer - mas pelo facto de se perder sempre algo.
 
Definitivamente sinto hoje que perdi a capacidade de acreditar - não escondo a esperança de um dia voltar a acreditar - em alguém.
 
Vejo-me constantemente como uma bóia de salvação, uma muleta e dificilmente acreditarei que alguém me veja de outra forma. E tudo isto porque deixei que alguém realmente me "visse" ... e agora vejo-me como fui vista.
 
E fui vista como tudo aquilo que eu não quero ser.
 
A Amiga (a letra maiúscula, parece que faz diferença) extraordinária que se quer preservar para a vida inteira, a mulher inteligente que pensa muito depressa e cuja clarividência muito se preza e agradece porque é um pilar essencial na vida nova de alguém com uma vida desfeita.
 
Mas tudo isto um dia já fui, fui mãe do pai dos meus filhos, vivi para o sonho de uma familia e esqueci-me de mim ... e que por isso quis deixar de viver até.
 
E o egoísmo masculino efectivamente vem ao de cima ... quando tudo passa fica sempre a "Amiga" ... como se a Amiga forte fosse feita de ferro e pudesse assistir de camarote, calma, impávida e serena à paixão esfusiante e arrasadora ... caída do céu aos trambolhões, no espaço de 2 semanas do Amigo ...
 
Haja pachorra! Quem não gosta ... não gasta. Deixe ficar. Para algo melhor esta menina há-de sobrar.
 
Ora poupem-me.
Ou melhor: poupo-me. Sempre que consigo.
 
Preservando-me. Afastando-me do que me magoa.
Respeitando-me. Não fazendo uma prioridade de quem faz de mim uma opção.
Valorizando-me: fazendo coisas que dignificam a minha forma de estar na vida e contribuem para o efectivo bem estar dos meus filhos.
 
E tudo isto porque nas relações humanas a Lei de Lavoisier não se verifica. Quando se quebra um laço afectivo algo efectivamente se perde.
 
 
ps: prometo Kitty que não hei-de fugir de mim. Não me vou distrair de mim.
 

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